IA em processos seletivos: como preparar seu currículo para ser lido por algoritmos
- CeprevNews
- há 2 dias
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Filtros automatizados podem ser um obstáculo para quem busca emprego. Veja como a inteligência artificial pode ajudar a lidar com eles
Quem nasceu em algum momento dos anos 1990, como eu, provavelmente lembra-se das aulas de informática, dos arquivos salvos em disquete e do desafio de fazer uma conexão discada. Era uma época também em que os currículos eram em papel e as vagas de emprego anunciadas prioritariamente nos jornais. O maior desafio para um candidato era fazer o CV ultrapassar a recepção e chegar até as mãos de alguém.
Desde então, o Google Drive substituiu o disquete, os classificados estão no LinkedIn e ninguém mais precisa “entrar” na internet. Mas uma coisa não mudou: ter o seu perfil avaliado por um ser humano pode ser tão difícil quanto antes. A diferença é que o filtro mais desafiador, agora, é de um algoritmo.
Na coluna de hoje, explico como funcionam essas barreiras invisíveis dos processos de seleção e como a inteligência artificial pode dar uma força para superá-las (sem que você caia em ciladas).
Por que seu currículo é barrado por um robô?
O principal desafio dos processos seletivos atuais tem nome em inglês: Applicant Tracking System, ou simplesmente ATS. São sistemas automatizados, baseados em inteligência artificial, que decidem quem merece (ou não) seguir adiante no processo seletivo, a partir da análise de compatibilidade do perfil e da vaga.
Ferramentas desse tipo são o padrão. A empresa que não trabalha com sistemas próprios recorre a plataformas que os aplicam.
Para os RHs, os ATS representaram a libertação das pilhas de papel, das caixas de e-mails lotadas e de horas de trabalho manual de seleção. Para os candidatos, viraram um pesadelo que os deixam insistentemente barrados “na porta” por robôs. Mesmo executivos experientes enfrentam esse funil, conta Andréa Cruz, CEO da Serh1 Gestão de Carreiras.
— Muitos profissionais qualificados não passam em vagas por incompatibilidade de linguagem com o sistema — explica Andréa. — Os algoritmos geralmente usam parâmetros definidos por analistas de dados jovens, com uma linguagem mais técnica. Currículos mais tradicionais, com linguagem subjetiva, acabam ignorados.
Como usar a IA a seu favor
Primeiro, um alerta: fazer do ChatGPT ou outra IA um auxiliar para ajudá-lo não significa compartilhar qualquer tipo de informação sensível com o chatbot. Inteligências artificiais podem ser úteis, mas é bom lembrar que elas têm memória (ou pelo menos algumas têm...).
Assim, se o sistema armazena conversas ou usa seus dados para treinar futuros modelos, é melhor evitar compartilhar detalhes como CPF, endereços ou informações confidenciais. Outro lembrete: IAs alucinam. Aqui vamos mostrar como usar as sugestões como ponto de partida, mas sempre com você no controle da versão final.
Revisão e ajustes do seu CV
Antes de chegarmos no ATS, é bom lembrar que seu currículo precisa ser bem escrito e organizado. Se você precisa de ajuda para isso, o ChatGPT, o Claude e o Gemini são algumas opções para ajudar a revisar erros e sugerir ajustes.
Um comando (prompt) para esse primeiro passo pode ser:
➤ Revise meu currículo (anexo) e identifique erros de gramática, pontuação e concordância. Também verifique se há problemas de digitação ou formatação. Me envie as sugestões de correção ponto a ponto.
Um detalhe importante: se você só pedir a correção, muito provavelmente a IA vai escrever tudo para você. Ao pedir “sugestões ponto a ponto”, você continua no controle do resultado, recebe os trechos que precisam de ajuste e decide o que adotar ou não.
Para anexar o arquivo, é só ir na opção "+”, dentro da conversa com a IA, e escolher anexar o arquivo.
O seu currículo conversa com a vaga?
Se o seu currículo está pronto e revisado, mas você quer entender se ele é compatível com uma vaga (e se passaria nos ATS), uma opção é enviar o documento e a vaga pretendida para a IA e escrever o seguinte prompt:
➤ Meu currículo está anexo. Você pode revisá-lo e checar a compatibilidade com a vaga a seguir (descrição abaixo)? Faça sugestões de melhoria e pontos que poderiam ser aperfeiçoados
Procure entender as sugestões e focar nas adaptações que fazem sentido. Como são modelos baseados em texto, as IAs são boas para fazer comparações e sugerirem alterações.
Como adaptar seu CV para os filtros ATS?
Os algoritmos do ATS geralmente procuram palavras-chave específicas, mas o ponto é que, mesmo que seu currículo seja bom, ele precisa “falar a mesma língua” da vaga. Faça assim:
➤ Leia esta descrição de vaga: [cole abaixo]. Agora, faça sugestões de ajuste no meu currículo para destacar minhas habilidades e experiências que mais se encaixam nesse perfil, otimizando a descrição para análise de sistemas ATS.
Aqui, uma explicação: o objetivo é fazer a IA identificar as palavras-chave da vaga e sugerir ajustes estratégicos no seu CV para que elas sejam identificadas pelo sistema. De novo: use as sugestões a seu favor, sem deixar o trabalho final na mão do robô.
Último alerta: IA não faz milagre
Currículo bom é aquele que traduz com clareza o que você sabe fazer e não o que a IA inventa. A tentação de automatizar tudo é grande, mas vale lembrar que se for genérico demais, o currículo pode até passar pelo robô, mas dificilmente vai convencer o humano do outro lado, que, no final, é quem decide.
Laís Vasconcelos, gerente de recrutamento da Robert Half, ressalta que é fundamental que o candidato deixe no CV somente aquilo que ele realmente domina.
— É importante fazer a compatibilidade do seu currículo com as atividades solicitadas na descrição da vaga, mas mantendo o senso crítico sobre a realidade das informações. Um currículo 100% formatado por IA pode gerar uma percepção de que são informações falsas.
Vasconcelos ainda sugere que a IA pode ser útil para além do currículo e ajudar o candidato em pesquisas sobre a cultura da empresa, as tendências para determinado segmento e como se preparar para ele.
Fonte: O Globo
Foto: Freepik
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