
A construção do túnel imerso pelo rio Itajaí-Açu é projetada pelo estado de Santa Catarina para transformação da mobilidade urbana da região que integra os municípios do Vale do Itajaí até cidades litorâneas, entre elas, Balneário Camboriú. Além da ligação direta no principal eixo aeroportuário do estado - formado pelo porto de Itajaí e pelo aeroporto de Navegantes - o projeto prevê um novo sistema de transporte coletivo regional 100% elétrico, com ônibus de trânsito rápido (BRT - bus rapid transit) pelo túnel submerso, e a implementação de corredores de mobilidade e obras de resiliência climática em Balneário Camboriú.
O Projeto de Mobilidade Integrada (Promobis) é conduzido pela Associação dos Municípios da Região da Foz do Rio Itajaí (Amfri) em parceria com o governo do estado de Santa Catarina. Enquanto a associação, que representa 11 municípios, ficará com a responsabilidade pelos projetos executivos do túnel imerso com recursos provenientes do Banco Mundial, o governo catarinense deve lançar uma parceria público-privada (PPP) para a construção e concessão do túnel após receber os projetos da Amfri.
O engenheiro civil João Luiz Demantova, coordenador do Promobis, afirma que o túnel imerso é uma necessidade para implementação do sistema de transporte coletivo regional com integração de norte a sul na região. Atualmente, a ligação é feita por meio do serviço de ferry boat com balsas pelo rio ou pela ponte da BR-101. “Esse deslocamento entre Itajaí e Navegantes tem pouco mais de 500 metros e acaba se tornando um trajeto de mais de 20 quilômetros pela rodovia”, compara.
A construção inédita no país deve usar o mesmo modelo do túnel imerso Santos-Guarujá, que ligará as principais cidades da Baixada Santista separadas pelo canal marítimo, onde se concentra o maior trânsito de balsas do mundo. “A metodologia construtiva é o que há de mais moderno em túneis para áreas com atividade portuária muito intensa. A região tem na logística aeroportuária uma das suas principais fontes econômicas”, comenta Demantova.
Segundo ele, o túnel Itajaí-Navegantes será construído a 29 metros de profundidade, o que permite um calado livre para navegação de 13 metros. Dentro do túnel, três faixas de pista em cada sentido, sendo que uma das faixas de tráfego será exclusiva para o transporte coletivo. "O túnel ligará o bairro Imaruí em Itajaí [próximo ao porto] e o bairro São Domingos em Navegantes [próximo ao aeroporto] mas o objetivo principal não é apenas uma ligação direta entre essas estruturas e sim a mobilidade regional como um todo", ressalta o coordenador do Promobis.
A atividade aeroportuária foi determinante na escolha do modelo de projeto para ligação entre Itajaí e Navegantes, o que levou o grupo de trabalho a descartar a construção de uma ponte. “Além do calado mínimo de navegação de 13 metros, a atividade portuária necessitaria de uma ponte de 65 metros para não impedir a navegação com os navios cruzando por baixo dela sem obstáculos. Por outro lado, nós temos o aeroporto de Navegantes com um cone de aviação que permite uma obra com no máximo 45 metros de altura”, explica o engenheiro.
Por meio do financiamento com o Banco Mundial, os municípios planejam a realização do projeto executivo de engenharia do túnel e das pesquisas de origem e destino para dimensionar o tráfego, que serão entregues ao governo do estado para o lançamento da PPP. Para Balneário Camboriú, Demantova afirma que o projeto prevê obras de micromobilidade e mobilidade ativa na cidade, que passou por um forte processo de verticalização, característica propícia para a utilização de bicicletas.
“Porém, as vias da cidades não estão preparadas para receber esse novo modelo que vem crescendo rapidamente. É preciso organizar e criar novos designs de rua que priorizem a segurança tanto do pedestre quanto do ciclista.”
De acordo com engenheiro civil, os estudos de pré-viabilidade econômica apontam para um investimento de aproximadamente US$ 180 milhões na construção do túnel e confirmam a atratividade do mercado privado para um contrato de manutenção e operação por 35 anos.
“A taxa interna de retorno para uma tarifa de R$ 5 para motocicletas e R$ 10 para automóveis, que é o mesmo que se cobra no limite pelo ferry boat, é de 16,5%. Então, é extremamente atraente para o mercado de investimentos”, disse Demantova, que faz a ressalva que o cálculo ainda não leva em consideração a demanda do tráfego de caminhões, pois não existiam dados para o dimensionamento no estudo de viabilidade econômica.
A expectativa do coordenador do Promobis é que até o dia 30 de maio a operação de crédito seja contratada junto ao Banco Mundial com os processos licitatórios para a execução dos projetos de engenharia do túnel no segundo semestre deste ano. O cronograma prevê que a PPP ocorra até o final de 2027 com conclusão das obras para início da operação do túnel em dezembro de 2031.
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O apoio estadual ao programa de mobilidade no Vale do Itajaí foi formalizado em outubro de 2024, com a assinatura de um protocolo de intenções em que o estado assumiu compromisso de autorizar no futuro a delegação de competência do transporte na região para o consórcio intermunicipal. Na ocasião, o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), anunciou o investimento de US$ 24 milhões para as primeiras contratações do projeto do túnel entre Itajaí e Navegantes.
“O governo do estado de Santa Catarina é parceiro deste grande projeto de mobilidade inteligente em todas as suas etapas, em investimentos e apoio técnico, dentro de todas as condições legais, para processos de licenciamento e autorizações de obras. Acreditamos que o Promobis vai transformar essa região litorânea, facilitando a vida das pessoas e abrindo novas oportunidades de negócios", comentou o governador catarinense.
Fonte: Gazeta do Povo
Foto: Divulgação/Associação dos Municípios da Região da Foz do Rio Itajaí
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