
Série de acidentes de avião aumentou ansiedade dos viajantes em relação a voar; especialistas afirmam que a aviação continua sendo menos arriscada do que outros transportes e oferecem dicas
Uma colisão fatal no ar entre um avião comercial e um helicóptero do Exército. Múltiplos acidentes em diversos países. Aviões pegando fogo e até virando de cabeça para baixo.
Nos últimos dois meses, a aviação comercial global foi abalada por mais de meia dúzia de acidentes incomuns, gerando preocupações sobre o estado da segurança aérea. Nos Estados Unidos, isso acontece em meio a um número alarmante de quase colisões e preocupações contínuas sobre a falta de controladores de tráfego aéreo.
A cada incidente, imagens de vídeo circulam rapidamente online, traumatizando ainda mais os viajantes, que dizem que essa onda recente de problemas aumentou sua ansiedade em voar.
Jaimee Rindy, de 28 anos, moradora de Atlanta, disse que desenvolveu medo de voar há alguns anos e que essa sensação ficou ainda mais intensa nos últimos meses. ”É difícil se sentir seguro quando você está completamente fora de controle e realmente não tem ideia do que está acontecendo enquanto está na aeronave”, disse Rindy. “No fim das contas, essa é a parte mais assustadora de ser passageiro: perder a confiança na indústria.”
Voar está ficando mais perigoso? E o que os passageiros podem fazer para ficarem mais seguros?
Os incidentes recentes, ainda sob investigação, ocorreram em diferentes países e envolveram diversos tipos de aviões. Nos últimos dois meses, ocorreram acidentes fatais na Coreia do Sul, nos Estados Unidos e no Azerbaijão.
Nos EUA, alguns dos incidentes envolveram aviões comerciais, enquanto outros foram com aeronaves privadas menores, sujeitas a regulamentações de segurança menos rígidas.
Entre todas as aeronaves, os aviões comerciais de grande porte são os que devem cumprir as normas de segurança mais rigorosas. Nem todos os incidentes foram fatais. Todos os 80 passageiros de um voo da Delta Air Lines que fez um pouso forçado no Aeroporto Internacional de Toronto Pearson na segunda-feira, sobreviveram, mesmo depois que o avião capotou na pista, perdendo a asa direita e a cauda.
Jeff Guzzetti, ex-investigador de acidentes da Administração Federal de Aviação (FAA) e do Conselho Nacional de Segurança no Transporte (NTSB), disse que ainda é cedo para determinar fatores comuns entre os acidentes recentes envolvendo companhias aéreas dos EUA. Entre eles estão a colisão no ar no Aeroporto Nacional Reagan, em 29 de janeiro, e a queda de um avião de pequeno porte no Alasca, em 6 de fevereiro. “Muitos fatores”, incluindo o clima e políticas da FAA, estão envolvidos, afirmou.
Voar continua sendo a forma mais segura de transporte
Especialistas enfatizam que voar ainda é, de longe, a maneira mais segura de viajar. Arnold Barnett, professor de estatística da Escola de Administração Sloan do MIT, disse que o risco de morrer em um voo é quase zero.
Os recentes acidentes de grande repercussão são uma coincidência, segundo ele. “Cerca de 12 milhões de pessoas embarcam em aviões todos os dias, em média, ao longo do ano”, afirmou Barnett. “Na esmagadora maioria dos dias, nenhum passageiro se machuca, muito menos morre.”
As chances de morrer em um acidente de carro ao longo da vida são de cerca de 1 em 95, segundo o Conselho Nacional de Segurança dos EUA. Ainda assim, os recentes incidentes devem levar a análises cuidadosas e atenção a “possíveis falhas no sistema”, alertou Guzzetti.
A colisão em Washington, DC, foi o acidente mais fatal envolvendo uma companhia aérea dos EUA em mais de uma década. Se a segurança da aviação comercial está se deteriorando, essa é uma possibilidade que precisa ser considerada, disse Kyra Dempsey, que escreve sobre acidentes aéreos no blog Admiral Cloudberg. Ela acrescentou que os cortes na FAA são um fator a ser monitorado.
A dica de segurança mais importante? Use o cinto de segurança o tempo todo
Especialistas recomendam manter o cinto de segurança afivelado durante todo o voo. Ouvir as instruções de segurança dadas pelos comissários de bordo também é uma precaução essencial, segundo Sara Nelson, presidente da Associação de Comissários de Bordo-CWA, que representa quase 55 mil profissionais de 20 companhias aéreas.
Os comissários de bordo passam por treinamentos anuais em procedimentos de emergência, disse Nelson, incluindo como lidar com passageiros indisciplinados, incêndios na cabine e retiradas na água.
Existe um lugar mais seguro para sentar no avião?
John Cox, ex-piloto de linha aérea e dono de uma consultoria de segurança, disse que as pesquisas são inconclusivas sobre qual é a parte mais segura do avião.
Alguns viajantes acreditam que a parte traseira é mais segura, pois absorveria melhor a energia do impacto, reduzindo os ferimentos dos passageiros. No entanto, Cox e Guzzetti rejeitam essa ideia. “Depende da dinâmica do acidente”, disse Cox. “Não se preocupe com onde você senta.”
Os viajantes não podem prever que tipo de acidente podem enfrentar. Mas, para evitar turbulências, Cox recomenda escolher um assento “sobre o meio da asa”.
Compre um assento para seu filho e use uma cadeirinha infantil
Muitas companhias aéreas permitem que pais carreguem bebês de até 2 anos no colo, sem necessidade de comprar um assento para eles. No entanto, a FAA e o NTSB desaconselham essa prática e recomendam o uso de um sistema de retenção infantil aprovado.
Bebês que não estão presos podem ser arremessados dos braços dos pais em caso de emergência, como turbulência severa, e têm maior risco de se ferir do que aqueles que estão devidamente acomodados, segundo um estudo de 2019 do Instituto Nacional de Saúde dos EUA.
Fonte: Estadão
Foto: Freepik
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