
O País deve enfrentar o pior ano de dengue, e a população precisa entender o tamanho do perigo em curso
Um em cada quatro municípios paulistas está em epidemia de dengue, informa o Painel de Arboviroses da Secretaria Estadual de Saúde. Ao longo do mês de janeiro, constatou-se um avanço perturbador do número de casos – o dobro, quando comparado a 2024, que foi disparadamente o ano mais trágico na incidência e nas mortes por dengue em todo o País.
Chamou a atenção, também no Estado, o número de óbitos, tanto aqueles já confirmados como os ainda sob investigação, fechando janeiro com a marca de 45 municípios em estado de emergência. O perigo, contudo, não está restrito às divisas de São Paulo: há cenários preocupantes no Rio de Janeiro, Espírito Santo, Tocantins e Paraná. Até no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, onde até cinco anos atrás nem sequer se falava em dengue, o vírus transmitido pelo Aedes aegypti tem circulado.
Se essas evidências não bastarem para emitir alertas, em alto e bom som, sobre a gravidade da situação em curso, seria bom pelo menos ouvir o que disse ao Estadão o infectologista Alexandre Naime Barbosa, professor de Medicina na Unesp e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia. “Não há dúvidas em dizer que 2025 vai ficar marcado, e não estou sendo alarmista ou pessimista. Será o pior ano de epidemia de dengue de toda a série histórica, não só no Estado de São Paulo, mas também no Brasil”, disse ele, prevendo que 2025 deve ultrapassar o ano anterior em número de casos e taxa de mortalidade. Se, portanto, 2024 foi desastroso – com mais de 6 milhões de casos e quase 6 mil vidas perdidas –, 2025 tende a ser pior, se considerarmos o ritmo deste início de ano.
Ministério da Saúde e autoridades estaduais costumam ser cautelosos ao antecipar cenários futuros e têm sido cuidadosos ao expor os prognósticos mais sombrios. Talvez cautelosos demais. Afinal, o problema existe e há condições propícias a uma maior proliferação do mosquito transmissor da dengue, entre as quais mais chuvas e temperaturas mais altas, extremos decorrentes das mudanças climáticas, além de vários sorotipos circulando simultaneamente, algo que não acontecia havia muitos anos. E o mais grave: tudo isso convivendo com “uma enorme falta de percepção de risco da população”, como lembrou o professor. Em outras palavras, anos e anos de convivência criaram uma sensação de normalidade que, neste momento, se mostra um perigo.
É preciso dizer com todas as letras: a dengue mata. E boa parte do problema está dentro de casa, com ambientes propícios à proliferação do mosquito. Há medidas corretas em curso envolvendo os governos federal, estaduais e municipais, existe tecnologia disponível para mitigar riscos e, aos poucos, a vacina deve avançar – ainda que se vejam situações de estoques guardados por baixa adesão, limites de quantidade e, portanto, uma vacinação restrita a poucas faixas da população. Enquanto isso, trabalho coletivo, informação, sensibilização e mobilização são tão necessários quanto o alerta, isto é, dizer com clareza para quem puder ouvir que o momento é grave e o risco, elevadíssimo.
Fonte: Estadão
Foto: Freepik
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